Saiu no Jornal Estado de Minas, no dia 15/02, uma matéria muito interessante sobre "adultização" e escolarização precoce. É extensa, mas vale à pena conferir!
Diálogo entre pais e filhos
Vivina Rios Balbino - Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Vivina Rios Balbino - Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Desde o nascimento e certamente por toda a vida, os pais são elementos de suma importância para os filhos: exemplo, compromisso e atenção constante são fundamentais para a formação de qualidade dos filhos. A velha e verdadeira educação de berço ainda é atual e importante. Dessa forma, assumir com responsabilidade e compromisso a educação dos filhos deve ser uma prioridade para os pais. Acho até que deveria existir um pequeno curso para ser pai e mãe. Talvez seja essa a nossa tarefa mais complexa na vida – educar bem os nossos filhos! Será que todos os pais estão preparados para essa missão, principalmente na sociedade atual com graves problemas sociais e uma verdadeira revolução nos costumes, valores e atitudes? Consumismo exacerbado, alta competitividade profissional, inclusão cada maior da mulher no mercado de trabalho, luta da mulher pela divisão do trabalho doméstico, revolução tecnológica com tantos atrativos, que podem induzir a equívocos e desvios, a precoce escolarização da criança e as tantas atividades extracurriculares a que são submetidas. É um tema abordado pelos psicólogos mundo afora. Até que ponto o excesso de cobrança da criança, principalmente na pré- escola e escolarização precoce podem afetar negativamente o seu desenvolvimento?
Faz sucesso nos Estados Unidos um importante documentário feito por uma mãe e advogada Vicki Abeles intitulado Race to Nowhere (Corrida para lugar nenhum), que questiona e faz fortes críticas à cultura da “alta performance” que impera nos subúrbios de classe média alta norte-americana. Segundo o trabalho, ao longo das últimas décadas, a corrida da população endinheirada para pôr os seus filhos numa universidade de elite cresceu mais do que a oferta de vagas e o resultado é uma competição acirrada com altas cobranças de excelência em notas e múltiplas atividades extracurriculares para entrar por exemplo em Harvard. Ela chama atenção para os riscos de doenças psicossomáticas, evasão escolar, envolvimento com drogas, agressões, depressão e até suicídio. Com certeza, é um importante alerta para todos os pais e, embora seja uma realidade nos EUA, sentimos que essa tendência de “alta perfomance” existe também no Brasil e no mundo todo, principalmente a precoce escolarização e múltiplas atividades extracurriculares. Diante de tantas cobranças, ainda há espaço para as crianças brincarem livremente? Será que não estamos impondo uma agenda muito apertada aos nossos filhos e que essa escolarização precoce também não “esconderia” certo comodismo dos pais ao transferir a responsabilidade da educação dos filhos à escola? Uma excelente reflexão para esse início de ano letivo. Educação de qualidade na família e na escola, mas dentro dos limites.
Nenhum comentário:
Postar um comentário